12 de junho de 2024
14ª Conferência do Ibracon colocou em debate os temas que afetam a profissão, como o avanço tecnológico e as mudanças regulatórias
“O presente e o futuro da Auditoria Independente” foi o tema escolhido para o painel de líderes da 14ª Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente do Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil, que teve início na manhã de terça-feira (11) e segue até hoje (12), no Teatro Claro Mais, em São Paulo, com transmissão on-line. O painel foi aberto por Guy Almeida Andrade, sócio da Magalhães Andrade Auditores Independentes e membro de conselhos de administração.
Ele declarou que, no atual contexto, há certa frustração com a atividade de Auditoria Independente, que decorre de escândalos recentemente noticiados. Mas ressaltou que é preciso ter em mente a verdadeira origem desses problemas. “O auditor não tem poder de polícia. Ele faz o seu trabalho de acordo com as normas, captando informações da maneira como essas indicam”, disse. Segundo Andrade, as práticas de governança são ainda incipientes, e isso pode representar o principal motivo dessa problemática. “Nós ainda estamos aprendendo a lidar com governança corporativa. Convivemos com um conselho fiscal turbinado por um bom número de anos, o que atrasou a maturidade desse processo no Brasil. E continuamos caminhando lentamente, mesmo com o Novo Mercado”, apontou.
Porém, apesar de todos esses problemas, na opinião de Andrade, o auditor mantém seu papel de emprestar credibilidade para o mercado de capitais. “Ele ajuda enormemente esses ambientes. Ter uma auditoria independente presente significa que, com o tempo, o ambiente de controle vai melhorando e as dificuldades vão diminuindo. A colaboração dos auditores é enorme”, opina. Por isso mesmo, ele incentiva que aqueles que estão concluindo a graduação agora sigam para o caminho de Auditoria Independente, que define como uma carreira muito rica em experiências e aprendizados.
Olhando para o futuro, Andrade cita os desafios nas novas normas de asseguração de relatórios de sustentabilidade. “Isso é uma novidade e acho o cliente não saberá fazer, mesmo as empresas que já produzem relatórios sustentabilidade. Nós também não conhecemos, estamos aprendendo agora, porque a nova norma ainda está em fase de adoção. Sem dúvida, nossas equipes terão de ser reforçadas com engenheiros, biólogos e advogados que nos ajudem a compreender esse novo grupo de informações a serem captadas e outras questões regulatórias”, opina o auditor. No balanço de tudo, ele tem expectativa de o relacionamento entre auditores e comitês de relatoria irá melhorar gradativamente.
Para Luiz Vieira, presidente da EY Brasil e integrante do conselho de administração do Ibracon, falar do presente e do futuro da Auditoria Independente implica falar de demanda social. “Nossa sociedade, cada vez mais, requer transparência, integridade e a accountability para alcançar o progresso, e isso também depende de termos um mercado de capitais eficiente, com empresas capazes de levantar e fazer alocação de capital, gerar empregos, produzir novos serviços e inovar. Aí entra a grande relevância dos auditores independentes, que é aquele que precisa ter muito claro que sua missão é de interesse público e, mais ainda, dos stakeholders”, declarou.
Segundo ele, o auditor independente tem, agora e para o futuro, um papel muito importante de geração de valor. E não apenas por sua capacidade de ler os números, mas de ultrapassar essa análise. Sobre os aspectos tecnológicos, o especialista considera que vivemos “uma revolução” e uma verdadeira “transformação sem precedentes”. Com isso, a profissão do auditor independente terá diante de si novas oportunidades, ainda que também muitos desafios. “Esta é uma profissão em constante evolução também no impacto social que irá criar daqui para frente”, disse, referindo-se às novas normas de asseguração de relatórios de sustentabilidade.
“Vejo o presente e o futuro da nossa profissão como altamente desafiador, mas altamente empolgante. Não terá monotonia, mas exigirá profissionais que sejam curiosos, criativos, que tenham tenacidade, resiliência e interesse de aprender diariamente. E também de manter seu compromisso com a ética, a integridade, a qualidade e a transparência, porque esses são os pilares da nossa profissão”, concluiu Vieira.
“Muito se fala sobre transformações tecnológicas e inteligência artificial, mas eu gostaria de explorar um pouco mais a inteligência humana”, começou Luiz Oseliero, líder de Auditoria na Deloitte Brasil. Segundo ele, é perceptível que o mercado está sedento de informações confiáveis e precisas. “Percebemos uma alta demanda por profissionais e firmas de fato independentes, que tenham muita ética, integridade e que consigam trazer para esse mundo de tanta incerteza um pouco de confiabilidade”, declarou.
Para Oseliero, não temos que falar de futuro, pois esse tempo é agora. O queria seria mais importante analisar é o perfil dos jovens profissionais, ter uma visão holística desse auditor sobre seu conhecimento dos negócios das empresas, sua capacidade de compreender profundamente os riscos daquela indústria, sua missão e objetivos. “Entender, por exemplo, as pressões que os executivos da empresas estão sofrendo, identificar se suas metas são agressivas ou não. Então, o auditor precisa dar um passinho atrás, na minha visão, em lugar de começar a falar sobre inteligência artificial. Pensar agora um pouco mais nesse aspecto holístico”, declara. “Se realmente ele tem essa visão completa no negócio da empresa que está auditando, ou fazendo algum trabalho asseguração, será alguém dotado de capacidade analítica. Encorajo fortemente o investimento em educação e conhecimentos, não só os técnicos, mas humanos e de negócios”, avalia Oseliero.
Próximo a se apresentar, Marco Fabbri, sócio fundador da Fabbri Auditores, também opina que o que está em questão não é o avanço do desenvolvimento ou em que velocidade isso ocorre. “A impressão que temos é que os desafios da profissão ficaram todos concentrando nos últimos anos, mas eu vejo as coisas como tendências. Para chegarmos onde estamos hoje já passamos por momentos de transformação significativa. E destaco aqui três fatores que impulsionaram essa mudança: a crescente complexidade dos negócios, as mudanças regulatórias e, claro, o avanço tecnológico”, pontuou.
Segundo ele, a uma ou duas décadas, tínhamos um cenário com normas contábeis locais. Com o movimento da globalização, e para atender às necessidades dos investidores, tivemos que fazer várias mudanças. “Isso se refletiu na ampliação do mercado e, mais recentemente, em razão da pandemia, tivemos que acelerar ainda mais a tecnologia para realizar os processos de auditoria de forma remota”. Dito tudo isso, Fabbri enxerga um horizonte de uso mais intensivo de tecnologias “Estamos caminhando para um uso cada vez maior da inteligência artificial e para uma possibilidade ampliada de monitoramento de dados financeiros e operacionais em tempo real, graças a integração de sistemas e de novas plataformas de auditoria”, concluiu.
Fechando o painel, Sérgio Varella Bruna, sócio da Lobo & de Rizzo Advogados, trouxe a visão de quem não é um profissional de auditoria independente. Apesar disso, como advogado, ele trabalha na área há mais de 20 anos. “Por isso, consigo ter uma visão externa que talvez contribua para o debate”, disse, optando por falar não do futuro, mas de um presente em que ainda existe desconhecimento sobre o trabalho do auditor independente. Ele mencionou a palestra sobre perspectivas econômicas, apresentada antes, para ressaltar que este é, de fato, um cenário de muitas incertezas no mundo dos negócios e também na profissão do auditor independente. “Como disseram meus colegas de painel, este é também um ambiente cada vez mais complexo. Então eu poderia dizer apenas que não faço a menor ideia de como será o futuro da profissão”, comentou. Porém, sua experiência lhe garante algumas convicções. “Eu acho o futuro será o que fizermos dele. É fato que a profissão tem muitos desafios, sobretudo porque o auditor trabalha justamente na redução de incertezas. Por outro lado, disso se conclui que há também muitas oportunidades.
Para Bruna, é também necessário vencer os obstáculos da concepção equivocada que muitos fazem sobre as responsabilidade do auditor independente. Nesse sentido, a capacitação é fundamental para que esses vieses sejam esclarecidos. “Esse profissional é formado para atuar em um ambiente que exige uma postura circunspecta, em que não pode tomar partido, e que evite se expor para não prejudicar sua independência”. Daí a importância dos órgãos de representação profissional para assumir esse papel de debater e buscar melhorias na regulamentação. “O Ibracon vem fazendo esse trabalha há muito tempo e tem tomado posições que contribuíram muito com a gestão de normas e regulamentos, bem como na difusão do conhecimentos sobre o que o profissional faz e os motivos de seu trabalho ser indispensável”, finalizou.
Desafios da profissão
O painel incluiu um quiz direcionado ao público, que foi solicitado a responder a seguinte questão “Qual tema apresenta atualmente o maior desafio para a profissão?”. Para 50% dos respondentes o maios desafio são os avanços tecnológicos. As mudanças regularias ficaram em segunda colocação, com 30% das indicações. Segurança cibernética e engajamento com stakeholders ficaram empatadas com 10% das respostas cada.
A programação da 14ª Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente do Ibracon foi totalmente baseada nas Bandeiras da Auditoria Independente: Relevância da Auditoria Independente para o mercado e a sociedade, Tecnologia como aliada da Auditoria de alta qualidade, Pessoas como diferencial, Fortalecimento da cultura de diversidade e inclusão, Atividade baseada no desenvolvimento continuado e Atividade como agente de mudanças. O evento é o maior e mais importante evento voltado à atividade de Auditoria Independente do País. Recebe, anualmente, palestrantes nacionais e internacionais para debater cenários, gerar insights e antecipar tendências.
Por Comunicação Ibracon
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