Conferência do Ibracon coloca em debates aspectos da política econômica - Ibracon
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Conferência do Ibracon coloca em debates aspectos da política econômica

11 de junho de 2024

O painel apresentado pela economista-chefe do Banco Santander trouxe os pontos críticos e as propostas para a conjuntura brasileira

Quais são as perspectivas para a economia nacional nos próximos meses? Ainda que não seja possível prever com exatidão, alguns indicadores podem nos dar um direcionamento, para tentar entender de que modo a conjuntura irá afetar o trabalho dos profissionais de Auditoria Independente. Abordar este assunto foi a tarefa de Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Banco Santander, que se apresentou na manhã de terça-feira (11), na 14ª Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente do Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil. Conduzido pela jornalista e comentarista do Grupo Bandeirantes de Comunicação, Juliana Rosa, o evento teve início na manhã desta terça-feira (11) e segue até amanhã (12), no Teatro Claro Mais, em São Paulo, em formato híbrido.

Na palestra “Perspectivas econômicas para o Brasil”, a economista destacou o momento atual, que definiu como “era secular de mudanças” com muitas transformações acontecendo. Daí a necessidade de buscar bases de ancoragem nesse processo e conseguir navegar no horizonte de incertezas. Vescovi destacou elementos que formam essa conjuntura global, como juros mais altos em função de um processo de liquidez muito elevada – algo que está muito conectado a riscos. Pela primeira vez, estamos discutindo os gastos públicos dos Estados Unidos, que estão precisando, em razão de um déficit historicamente muito elevado, fazer emissões de títulos públicos. É um cenário que a gente não vê praticamente desde os anos 1980, e isso está trazendo uma percepção de risco mais alto”, resumiu.

Nesse cenário também têm influências as questões geopolíticas – com os conflitos armados no Oriente Médio e entre Ucrânia e Rússia – que se refletem nos custos de commodities, fazendo subir os preços de fretes internacionais. “Também temos mudanças importantes no mercado financeiro e de transações de pagamentos”, lembrou, citando que desde o início da guerra, a Rússia está usando outros meios de pagamento, devido às sanções sofridas. “Isso, de alguma forma, está acelerando alternativas monetárias nas trocas internacionais. Este é um advento importante, ainda que o dólar continue sendo a principal referência nas negociações comerciais”.

A palestrante também mencionou a influência das novas tecnologias, como a inteligência artificial. “Oito em cada 10 fóruns em que participamos tratam esse assunto. A transformação pela qual o mundo está passando não é, necessariamente, boa nem ruim”, disse, ao comentar que o lado positivo dessa tecnologia é contribuir para melhorar o bem-estar da humanidade. Por outro lado, persiste o temor de que venha a abolir postos de trabalho. Outro aspecto apontado pela economista foi a crise das democracias liberais ao redor do planeta, que, de acordo com ela, nunca foram tão questionadas. “Tudo isso faz parte dessa discussão, desse contexto geral de grandes mudanças”, disse.

Segundo ela, o Brasil está muito bem-posicionado do lado externo, mas tem as suas fragilidades internas. “Enfim, temos desafios de grande monta. É um país em desenvolvimento, uma economia emergente que está sendo afetada por um ambiente polarizado globalmente. E também temos um problema fiscal de desequilíbrio das contas públicas. Não adianta mais cortar uma parte de despesas discricionárias, sejam investimentos, seja a conta de luz ou conta de viagens do governo. Isso não está fazendo diferença. Agora, as despesas obrigatórias estão ocupando um espaço muito grande nos orçamentos, elas crescem quase que automaticamente porque elas são muito indexadas, também em razão de pedidos recentes, cresceram em uma velocidade ainda maior. A reforma da Previdência foi algo importantíssimo que o governo brasileiro fez, mas vejam agora a atualização do salário-mínimo em termos reais acima da inflação. Isso traz um desafio adicional para as contas da Previdência, que crescem mais do que o PIB possa absorver.

Vescovi também apontou o problema da alta carga tributária que é, em suas palavras, disfuncional. “Eu acredito que esta será uma reforma superimportante para ganhos de produtividade na sociedade. Temos feito um esforço muito grande para pagar e para coletar impostos. Com isso (a reforma) vamos melhorar muito. Não dá para dizer que em 100%, pois ainda temos desafios dentro da própria reforma. Mas a tendência é que melhore em relação ao que nós temos hoje”, disse.

A palestrante ainda abordou tópicos como a troca de comando no Banco Central, ajuste fiscal, taxa Selic, desequilíbrio no mercado imobiliários, desigualdades sociais, entre outros temas que influenciam o futuro da economia, mas terminou com uma avaliação positiva dos rumos que o país vem tomando. “Acabamos de celebrar 30 anos com a mesma moeda corrente no país. Temos feito grandes e importantes reformas no campo econômico e no mercado de capitais, onde nossa participação dobrou desde 2016. Temos ainda muitos desafios, como a reforma administrativa e da educação, mas somos um país que tem lideranças empresariais relevantes, mundialmente falando. E isso tem um significado muito importante entre os países emergentes”.

Agenda regulatória e perspectivas econômicas

Na sequência, Ana Paula Vescovi  participou de uma rodada de debates com Ana Tércia Rodrigues, vice-presidente Técnica do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Sobre a reforma tributária, Rodrigues mencionou a oportunidade de participar do debate graças à Frente Parlamentar da Contabilidade. “O Conselho Federal vem conseguindo espaço para defender os posicionamentos que afetam diretamente a atividade profissional. Quando fazemos isso, não estamos buscando privilégios e sim nos posicionando como interlocutores das empresas”, declarou.

A vice-presidente do CFC também destacou o compromisso do CFC de não se furtar a esse debate na esfera política. “Além disso, nós estamos mantendo nosso compromisso com a agenda da convergência que o Alexandre (da CVM, que conduziu o painel anterior) trouxe em sua fala. Não apenas das normas de contabilidade societária, mas também agregando as questões de sustentabilidade”, declarou. Sobre aspectos da palestra sobre economia, ela acredita que o controle de gastos dificilmente terá um encaminhamento eficiente, e que as metas de controle de inflação criam um cenário imprevisível. “Para que o governo se mantenha fiel a todas essas dinâmicas ele teria que empreender um trabalho de mapeamento de riscos, como é feito nas empresas privadas. Até existem tentativas nesse sentido, mas existem as situações inesperadas como a que estamos vivenciando hoje no Rio Grande do Sul”, avaliou.

Rodrigues também apontou o “alto apetite de arrecadação tributária” por parte do governo e criticou o que definiu como “uma dependência cada vez maior das bolsas de auxílio por parte da população mais carente”, em que um número cada vez maior de pessoas não consegue garantir sua sobrevivência sem ajuda do poder público. “Se você caminhar pelas ruas de São Paulo vai perceber um alto índice de degradação humana em alguns bairros. Então, dentro de uma perspectiva  de termos uma sociedade mais equânime, mais justa, não consigo ver como isso é factível nesse cenário atual”, disse.

Também participou do debate Alexandre Pinheiro dos Santos, superintendente Geral da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Ele destacou a questão da alta carga tributária, apontada por  Vescovi, e da busca por mais e mais arrecadação, citada por Rodrigues. “O Brasil tem problemas com essa carga tributária, que além de alta, é desigual. A partir do momento que incentivos tributários e isenções acabam por imprimir distorções no sistema como um todo. Eu acredito que a reforma tributária vai endereçar em grande medida esses problemas. Não é a ideal, mas é a reforma que estamos conseguindo fazer”, declarou.

Sobre a questão dos gastos públicos, Santos mencionou que ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está levando para o presidente Lula algumas propostas de cortes que podem ajudar, inclusive no curto prazo. “Sobre a questão da indexação, isso pode contribuir para amenizar um pouco. Com certeza será um sinal muito claro. Veja, não é porque você gasta mais em saúde e educação, ou em proporção da receita, que isso vai melhorar o serviço nessas áreas. Alguns estados brasileiros fizeram uma revolução na educação básica gastando muito pouco, apenas colocando um processo de gestão, de priorização do aprendizado, com muita tecnologia educacional – que não é algo que vem da inteligência artificial, vale destacar. O Brasil está cheio de ‘luzes’ de como fazer melhor e mais barato e a gente precisa acabar com essa narrativa de que basta colocar mais dinheiro que vai melhorar. Não basta e esta não é uma saída. Então são essas as escolhas que a gente precisa enfrentar na alocação do dinheiro público. Não falta espaço para reduzir os gastos no Brasil e gastar melhor”, declarou.

Business 20

O painel foi encerrado com a apresentação do “B20/”, por Reynaldo Goto, project manager do TF Integrity &Compliance do B20. Desde 1999, o G20 reúne maiores economias do mundo para discutir políticas públicas, o que, a despeito do nome, congrega hoje mais de 50 países. O Business 20 (B20) conecta a comunidade empresarial aos governos do G20, envolvendo cerca de 1.200 representantes empresariais, com o objetivo propor recomendações de políticas elaboradas por diferentes forças-tarefa, que se reúnem virtualmente.

Quem representa oficialmente o B20 no país é a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que definiu as forças-tarefas para realizar as propostas, pensando sempre em termos de passado, presente e futuro. “Contamos também com uma série de excelentes network farmers, como a OCDE, o Basel Institute, o World Economic Forum e o World Bank”, disse Goto.

Ele declarou que os setores privados de muitos desses países vêm se organizando para realmente fazer propostas para melhorar o ambiente de negócios e propor novas políticas públicas. “O Brasil vem acompanhando bem de perto todos esses desenvolvimentos do G20, inclusive tendo assumido a presidência do Grupo em dezembro de 2023. Esta é uma janela de oportunidades para o Brasil não só demonstrar aquilo que tem feito, mas também propor políticas públicas que sejam longevas e sustentáveis”, disse Goto.

A Conferência

Promovida pelo Ibracon, com apoio do B20 e patrocínio do CFC, ASD, Datev, Assurance, Irko e Trevisan Escola de Negócios, a 14ª Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente acontecerá entre 11 e 12 de junho. Serão apresentados painéis sobre as questões que mais impactam e desafiam a Auditoria Independente. A programação foi totalmente baseada nas Bandeiras da Auditoria Independente: Relevância da Auditoria Independente para o mercado e a sociedade, Tecnologia como aliada da Auditoria de alta qualidade, Pessoas como diferencial, Fortalecimento da cultura de diversidade e inclusão, Atividade baseada no desenvolvimento continuado e Atividade como agente de mudanças.

Por Comunicação Ibracon