23 de dezembro de 2022
*Por Leandro Camilo
Inclusão e Diversidade (I&D) é um tema que ganhou ainda mais tração na agenda das empresas nos últimos anos. A recente crise sanitária provocada pela pandemia de covid-19 acentuou e deixou ainda mais latente as desigualdades sociais e econômicas em nosso país, assim como reforçou a importância da responsabilidade individual e corporativa na promoção de relações e ambientes mais inclusivos para todas as pessoas, com atenção aos grupos minorizados.
Nesse sentido, as empresas têm implementado ações afirmativas em prol da construção e sustentabilidade de culturas de pertencimento que promovam a igualdade de oportunidades e permitam que todas as pessoas possam ser quem são, alcançando o máximo de seus potenciais para, dessa maneira, contribuir com os objetivos estratégicos das empresas.
Esse fenômeno não poderia ser diferente no segmento das firmas de auditoria que, cada vez mais, se articulam para promover as transformações culturais necessárias que possibilitem mais diversidade, equidade e inclusão. O mesmo acontece no Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil, entidade que é a voz e a face da profissão no país.
Com o objetivo de influenciar suas associadas no tema e proporcionar maior celeridade à pauta, o Ibracon criou no ano passado, quando completou 50 anos de fundação, o Comitê de Inclusão e Diversidade. Como parte das ações desse comitê, o Ibracon divulgou um manifesto pela I&D; definiu o “fortalecimento da cultura de Inclusão e Diversidade” como uma das seis bandeiras da auditoria independente, lançadas para nortear a atuação de profissionais do segmento; e vem realizando uma série de webinars, abertos para todos os públicos, que visam ampliar o letramento das firmas e da sociedade como um todo.
Outra ação de destaque foi a realização da “1ª Pesquisa de Inclusão e Diversidade Ibracon”, lançada em outubro deste ano, que teve como intuito mapear a maturidade das firmas em relação ao tema. Participaram desse mapeamento 36 associadas ao Ibracon, de diferentes portes, que empregam no Brasil milhares de profissionais.
Das firmas consultadas pela pesquisa, 69% delas afirmam possuir um código de conduta formal disponível para todas as pessoas. Ainda, nesse grupo, 76% incluem compromisso com a não discriminação e com a promoção da diversidade e inclusão dentro desse código de conduta. Já 58% delas contam com uma política interna específica de I&D.
Acerca das dimensões (raça/etnia, identidade de gênero, deficiência, orientação sexual e gerações/idade) e em linha com os desafios presentes no Brasil e com a crescente demanda de movimentos sociais, as firmas têm priorizado suas ações, sobretudo, em equidade de gênero, seguida pela racial. Em contrapartida, apenas 30% delas atualmente possuem metas que visam ampliar a representatividade de grupos minorizados em seus quadros de profissionais.
O treinamento e a sensibilização de profissionais também são evidenciados como pouco explorados pelas firmas. Embora a maioria considere suas pessoas engajadas ou muito engajadas em I&D, com lideranças que reconhecem e valorizam o tema, eles são realizados de forma estruturada por somente 22% delas. Vale ressaltar que a implementação de treinamentos corporativos, que provoquem reflexões, como, por exemplo, sobre vieses inconscientes, é essencial para as estratégias de I&D, ajudando a romper barreiras atitudinais por meio do conhecimento e da conscientização.
Entre os desafios identificados pela pesquisa, está ainda o relacionado à baixa implementação de sistemas de autodeclaração – apenas 28% dos respondentes possuem mecanismos para captura contínua de dados demográficos de suas pessoas. A autodeclaração é um ponto importante para apoiar as firmas na construção de projetos e iniciativas de I&D, já que permitem o acompanhamento de indicadores, definição de metas e a identificação de oportunidades em termos de demografia interna.
Por sua vez, procedimentos documentados e implementados que promovam a igualdade de oportunidades e de tratamento no processo de recrutamento e seleção já são uma realidade para 44% das firmas, enquanto canais preparados para receber denúncias relacionadas a casos de discriminação estão presentes em 47% delas.
A pesquisa mostra, que apesar da presença de políticas e processos relevantes, ainda temos um caminho importante rumo à uma sociedade mais equânime. Promover culturas de pertencimento requer intencionalidade na adoção de ações que contribuam para um futuro em que todas as pessoas sejam reconhecidas e valorizadas por suas diferenças. E o Ibracon, ciente dessas oportunidades, seguirá contribuindo com suas associadas de forma próxima e contínua nos próximos anos.
*Leandro Camilo é líder do Comitê de Inclusão e Diversidade do Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil
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