14 de junho de 2024
Iniciativa premiou três projetos universitários que apresentaram soluções inovadoras para otimizar o trabalho do auditor
A segunda edição do Hackaton docIbracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil premiou três projetos universitários que apresentaram soluções inovadoras para o uso da tecnologia como ferramenta para a auditoria de alta qualidade. A cerimônia de premiação aconteceu no dia 12, em São Paulo, no Teatro Claro Mais, em sequência à 14ª Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente. A iniciativa tem o objetivo de promover a Bandeira da Tecnologia como aliada do auditor independente e fomentar a inovação do setor, além de valorizar o conhecimento acadêmico.
Foram apresentados os 10 projetos finalistas, que foram votados pela comissão julgadora e o público participante. Os critérios levaram em conta o grau de inovação e originalidade, aplicabilidade do projeto na auditoria, viabilidade econômica e escalabilidade. O vencedor do prêmio de 20 mil reais foi o projeto ConstatAI, do IBMEC Minas, que propõe automatizar o processo de coleta, análise e apresentação de informações em processos de recuperação judicial, integrando o procedimento à auditoria das demonstrações contábeis. Apresentada pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP-SP), a ferramenta Trimegisto – que se destina à solução integral de processos de auditoria – conquistou o segundo lugar, com o prêmio de 10 mil reais. A guIA, inteligência artificial desenvolvida pela FIPECAFI (SP), levou o terceiro prêmio, de cinco mil reais, pela proposta de otimizar o manejo das informações contábeis, em diversos formatos e estruturas.
O presidente do Ibracon, Sebastian Soares, abriu a solenidade, destacando a importância da iniciativa para conectar a profissão com o meio acadêmico, promovendo o fortalecimento da atividade. Márcio Santos, Coordenador do Comitê de Tecnologia e Inovação do Ibracon conduziu o evento, destacando que foram 57 sessões de mentoria nesta edição do Hackaton. “Para todos nós que estamos envolvidos, é uma honra contribuir com o Hackaton. Percebemos que a iniciativa já teve um salto, do ano passado para cá, no número de inscritos e no nível dos projetos. É uma ação fundamental, afinal, não temos como pensar em executar a auditoria, sem pensar na tecnologia”, analisou Santos.
Provocando reflexões importantes ao final de cada apresentação, a comissão julgadora foi composta por Carine Roos, CEO da startup Somos Newa; Felipe guerra, representante do Conselho Federal de Contabilidade (CFC); Marco Lagoa, CEO da Witec IT Solutions e Tatiane Schmitz, Representando as firmas de pequeno e médio portes.
Projetos vencedores
Vencedor da competição, o projeto do IBMEC Minas apresenta-se como uma solução inédita no Brasil e no mundo para automatizar o processo de coleta, análise e apresentação do PPA (NBC TSC 4400) de constatação prévia executada em processos de recuperação judicial, que enfrenta desafios de falta de padrão documental, curtíssimo prazo de execução e trabalho manual. O ConstatAI propõe integrar o procedimento à auditoria das demonstrações contábeis, contemplando seis módulos, entre eles, o módulo de circularização digital, com etapas de contestação on-line dos saldos entre as partes envolvidas.
Já o Trimegisto da FECAP, segundo colocado, consiste em uma solução personalizável para a gestão integral de processos de auditoria, acelerando os processos e auxiliando a empresa a entender em quais etapas do trabalho está gastando mais tempo e recursos. Primando pela segurança e alinhado às diretrizes estabelecidas pela LGPD, o Trimegisto é direcionado a empresas de diversas portes, simplificando o processo de captação de clientes e a identificação e seleção de especialistas qualificados para atender às diversas demandas.
O projeto da FIPECAFI, que obteve a terceira colocação, desenvolveu uma solução que auxilia no trabalho de organização dos dados auditados. A guIA otimiza o tempo de identificação, transformação e visualização dos dados coletados em diversos formatos, selecionando as informações essenciais para o auditor. A plataforma funciona como um plug-in e atua em segundo plano, analisando os arquivos conforme são adicionados e registrando os dados relevantes. Com isso, libera os profissionais para tarefas mais estratégicas.
Conheça os demais projetos concorrentes
O projeto da Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG) focou a asseguração nos relatórios de sustentabilidade, que foi um dos temas, inclusive da 14ª Conferência do Ibracon. Como analisar esses dados, essencialmente qualitativos? Essa foi a pergunta que os alunos da PUC-MG procuraram responder, desenvolvendo o MyAudESG, que visa contribuir para a análise dos riscos dos temas materiais e frameworks.
Já os estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) propuseram um setup de auditoria copilotada por IA, com ajustes personalizados e proteção de dados confidenciais. O modelo trabalha totalmente off-line, prevê a criação de prompts específicos para auditores e um processo de ajuste fino que permite que a ferramenta se adapte às necessidades de cada usuário.
Voltado para as pequenas e médias empresas, o projeto da Universidade Anhembi-Morumbi atende pelo nome de Doc Audit Pro. Trata-se de um programa de automação que utiliza Machine Learning, realizando a análise preliminar de documentos e organizando-os, uma etapa do processo que demanda um gasto enorme de tempo, para muitos auditores. No Doc Audit Pro, os documentos são confrontados com saldos contábeis e as divergências são identificadas automaticamente.
O projeto da FUCAPE Business School elaborou uma plataforma que visa demonstrar a aplicabilidade do software Orange Canvas nos processos de auditoria interna e externa, evidenciando sua eficácia na detecção de fraudes, teste de controles, planejamento de auditoria e auditoria contínua. Através da análise e mineração de dados, no modo off-line, o Orange Canvas pode identificar padrões de fraude, avaliar e melhorar controles, e facilitar um monitoramento financeiro em tempo real. Baseada em estruturas modelares, a plataforma permite que o usuário a modele conforme sua conveniência.
Promover a otimização dos processos contingenciais, facilitando a interação entre a auditoria, o jurídico, a controladoria e o cliente é a premissa do Legisync, elaborado pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Como uma interface muito amigável, o software de gestão promete facilitar a coordenação, oferecer controle detalhado de prazos e apoiar a análise de negócios, garantindo uma resposta ágil e organizada às demandas relacionadas a processos contingenciais.
Já os estudantes da UniFAJ se debruçaram sobre o problema da identificação de fraudes em grandes bases de dados. O projeto BAP Analytics apresenta uma solução que integra a Lei de Newcomb-Benford e a Lei de Pareto. Esse alinhamento resultou em uma plataforma de análise completa, hábil em identificar inconsistências, que fornece insights confiáveis e apoia a tomada de decisões baseadas nas demonstrações financeiras.
A Audite.me é a ferramenta idealizada pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) que pretende otimizar em até 90% o tempo dos auditores na análise e verificação de receitas. O sistema coleta e organiza informações em documentos financeiros e compara essas informações com os dados declarados pelos clientes em seu balancete, visando encontrar possíveis discrepâncias. Com a capacidade de processar grandes volumes de informações, a Audite.me realiza uma extração inteligente dos dados, pois reconhece documentos de todos os formatos e estruturas.
“Conectando Passado, Presente e Futuro”
Ao final do evento, uma palestra com Luzia Sarno, executiva de tecnologia, suscitou muitas reflexões acerca do tema “Conectando Passado, Presente e Futuro: Tecnologia e Inovação no Mundo da Auditoria Independente”. Ela destacou que a auditoria é uma profissão relativamente nova, pois chegou ao Brasil na década de 1940, mas ao longo desse período já foi impactada por grandes mudanças neste mundo BANI (Brittle, Anxious, Non-linear, Incomprehensible; em português, frágil, ansioso, não linear e incompreensível).
Os frágeis controles dos anos iniciais deram lugar a ferramentas complexas e mais confiáveis, porém, a velocidade das transformações impõe aos profissionais a necessidade de atualização constante, sob pena de perderem o timing. Contudo, ela ressalvou que “há empresas que ainda estão no passado, outras no presente e outras já olhando para o futuro, quando se trata do nível de inovação, e os auditores devem ter sensibilidade quanto a isso”.
Ela discorreu sobre as principais ferramentas que auxiliam a atividade hoje, como Robotic Process Automation (RPA), com a utilização de bots para automatizar tarefas repetivas, dashboards interativos, relatórios dinâmicos que apresentam insights e plataformas de colaboração em nuvem, entre outros. Mas chamou a atenção para o “calcanhar de aquiles” de todas as áreas que lidam com a digitalização: cybersecurity e proteção de dados. “Os ataques só tendem a piorar, então, ainda há muito trabalho para ser feito aqui”, pontuou a executiva.
Na visão de Luzia, o número de auditores em exercício deve se manter estável nos próximos anos ou até pode apresentar ligeira diminuição, em função das inovações tecnológicas, “mas haverá maior demanda por auditores com habilidade em tecnologia”. Ela citou alguns casos em que as ferramentas estão trazendo ganhos consideráveis aos processos, como a Petrobrás, que utiliza big datas para monitorar suas transações financeiras e operacionais, o Banco do Brasil, que está automatizando com Robotic Process Automation, de acordo com a conformidade regulatória, e a Ambev, que usa ferramentas de BI (Business Inteligent) que permitem a auditoria contínua e em tempo real.
E então, comigo, o que muda? É a pergunta que muitos profissionais se fazem, à qual Luzia contribuiu com valiosos insights. Ela destacou a necessidade de estudar eternamente e conhecer apropriadamente ferramentas de Inteligência Artificial, Machine Learner, Robotic Process Automation, Blockchain e Análise de Big Data. Entre as soft skills, saem na frente os auditores que conseguem ajudar na construção de soluções, participando do próprio desenvolvimento do negócio, possuem pensamento crítico e analítico, são ágeis na resolução de problemas e detêm a capacidade da visão estratégica e propositiva.
Ela reconhece que as exigências são variadas e complexas, diante destes tempos tão acelerados e competitivos, mas destacou a capacidade de se adaptar às mudanças como fator propulsor na busca pelas demais. Por fim, advertiu que “não devemos nos apaixonar pela tecnologia, mas sim nos lembrar que ela é um meio, ou seja, devemos sempre trabalhar ao encontro da sociedade, e não vice-versa. Devemos usá-la sem perder de vista que deve tornar as empresas mais éticas e mais responsáveis”.
Por Comunicação Ibracon
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