Artigo: A importância da cultura de Diversidade e Inclusão na profissão de Auditoria Independente - Ibracon
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Artigo: A importância da cultura de Diversidade e Inclusão na profissão de Auditoria Independente

25 de maio de 2023

Por Comitê de Diversidade e Inclusão do Ibracon

Atualmente, o tema da Diversidade e Inclusão (D&I) ocupa um lugar cultural e estratégico dentro das empresas. O bem estar, a dignidade e a inclusão de grupos minorizados (pessoas negras, pessoas com deficiência, mulheres, pessoas LGBTQI+ e outros) é hoje um compromisso de muitas organizações. Além disso, determinadas legislações também garantem a inclusão dessas pessoas por meio de medidas afirmativas, como a lei da empregabilidade para pessoas com deficiência e o programa Emprega + Mulheres. Desse modo, o compliance das empresas passa a englobar fundamentos da Diversidade e Inclusão que, para estar em conformidade com as legislações vigentes e com os órgãos reguladores, investem em programas de contratação, desenvolvimento de carreira, formação de lideranças e ações de conscientização.

É sabido que há muito o que fazer para que alcancemos um lugar justo e equitativo para todas as pessoas, mas é importante reconhecer e celebrar as mudanças e avanços que já tivemos na sociedade. Visitar nossa história é uma inspiração importante para nos manter conscientes e engajados.

Há pouco mais de 100 anos, mulheres eram impedidas de trabalhar em Contabilidade. Em 1909, Sir William Barclay Peat, ex-presidente do Institute of Chartered Accountants in England and Wales (Instituto de Contadores Públicos da Inglaterra e do País de Gales), argumentou, diante de seus pares, pelo direito das mulheres atuarem como profissionais no ramo, tendo seus méritos profissionais respeitados tanto quanto o dos homens. A legislação que garantiu essa conquista demorou uma década para ser aprovada e, em 1924, Ethel Watts se tornou a primeira mulher a ser certificada pelo instituto. Ela foi mentorada pelo Sir William.

Não é difícil encontrar profissionais que por serem mulheres, no início de suas carreiras, sentiam que precisavam provar sua capacidade de forma mais intensa que os homens, e que muitas vezes percebiam que os próprios clientes estavam aprendendo a lidar com mulheres nessa profissão. Infelizmente, ainda hoje, as mulheres travam uma desafiadora jornada nas firmas, enfrentando desde remunerações desiguais até situações de assédios diversos. Nesse espaço visto como “masculino”, características e comportamentos desse espectro costumavam ser as mais valorizadas; por essa razão, muitas mulheres precisaram desenvolver comportamentos mais duros, firmes e masculinos para serem reconhecidas e legitimadas como competentes. Para mudar essa realidade, ações foram necessárias: equiparação de salários, licença e auxílio parentalidade, desenvolvimento da carreira da mulher entre uma série de outras ações focadas na promoção da equidade entre os gêneros. Hoje, como oposto a isso, competências ainda consideradas femininas estão sendo cada vez mais valorizadas no mercado: uma liderança que abraça, que se coloca como vulnerável e que acolhe as demandas de sua equipe é, atualmente, mais valorizada do que a liderança autoritária, dura e distante. Lideranças dialogadas e humanizadas tornaram-se os modelos ideais. Principalmente com a crescente importância do tone at the top (entendido como o tom da liderança, do topo) características como empatia, senso de coletividade e escuta ativa passam a ter destaque.

A mudança das características e competências valorizadas ao longo do tempo nos mostra a impermanência daquilo que temos como certo e errado. Se durante anos foi visto como certo mulheres não terem carreiras profissionais, se durante anos pessoas negras foram consideradas como inferiores a pessoas brancas, o que será que hoje consideramos certo e que deixará de ser assim amanhã? Não temos essa resposta. Ao contrário da impermanência dessas “certezas”, sabemos que pensar em todas as pessoas e em todos os grupos sociais nos coloca em um lugar de busca permanente por justiça.

Para além de questões de gênero, incluir Diversidade e Inclusão à prática profissional – independente de qual seja – é necessário e fundamental. Na auditoria, ao se ampliar a noção de independência – conceito associado à prática e questões objetivas- percebe-se que vieses, preconceitos e atos discriminatórios podem influenciar e comprometer a prática do(a) auditor(a), já que suas opiniões e pareceres devem ser sempre imparciais e independentes de fatores externos. É importante expandir esse conceito, entendendo que a integridade e a idoneidade são parte da ética profissional, mas também dos comportamentos cotidianos e pessoais.

Ainda sobre Inclusão, especificamente na auditoria, há uma realidade relativa à mobilidade econômica e social. Jovens estudantes de Ciências Contábeis, muitas vezes vindos de situações de vulnerabilidade socioeconômica, entram em firmas e constroem uma carreira, podendo ir de aprendiz a um sócio ou uma sócia. Esse é um ponto de destaque, onde essas pessoas veem suas vidas mudarem dentro desse cenário profissional.

Incluir todas as pessoas, mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência, pessoas LGBTQI+, de diferentes classes sociais, refugiadas, com diferentes crenças e religiões ou de gerações distintas é uma ação na qual todos ganham. Defender o direito do outro existir, é defender também o nosso direito de existir. Atuar ativamente, seja como protagonista seja como pessoa aliada, assim como Sir William foi, é entender o nosso papel na construção de um mundo (e de uma carreira) mais justa para nós e para quem caminha ao nosso lado. Para continuar evoluindo essa história, é preciso que mudemos o agora.